A escola que não pára em pé
Trecho retirado do site do SINTEAL 18/11/2008
Trecho retirado do site do SINTEAL 18/11/2008
Embora não haja discordância sobre a necessidade de se reestruturar o sucateado parque de escolas públicas, os especialistas concordam que é preciso ir mais longe. A escola ainda padece da falta de recursos humanos, reduzida a uma estrutura que na maior parte das vezes se restringe a um diretor, um vice-diretor, professores e alunos. Isso faz, segundo as entidades sindicais, com que os diretores se desdobrem em funções administrativas. No site do Sindicato dos Especialistas em Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo (Udemo), os três primeiros itens de um decálogo de instruções de pressão contra as deficiências da infra-estrutura relacionam-se à falta de merendeira, de secretários e de bibliotecários. "Tem diretor que faz merenda, trabalho de secretaria, preenche papéis, tudo menos acompanhar o processo pedagógico", reclama o presidente da entidade, Luiz Gonzaga de Oliveira Pinto.
"A literatura é clara para mostrar que profissionais de apoio são importantes. A pior filosofia que se pode defender na escola é a de Pero Vaz de Caminha, segundo a qual "em se plantando, tudo dá", argumenta o pesquisador do Ipea Sergei Soares. "Ou seja, não basta jogar o professor e os alunos dentro da sala de aula e esperar que tudo dê certo", conclui.
Para Cleuza Repulho, do MEC, as escolas brasileiras ainda precisam amadurecer a discussão sobre o quadro mínimo que a escola precisa ter para atender aos seus objetivos. "Não se discute a questão de que a escola precisa de mais gente, mas é preciso saber quem", diz. Segundo ela, o MEC é indutor de políticas, e não pode interferir nas definições de estados e municípios. As redes pretendem fazer novas contratações para os quadros escolares, mas em muitos lugares esbarram na lei de responsabilidade fiscal.
Gente, gênero de primeira necessidadeSegundo a pesquisadora Elena Martin, diretora-geral do Ministério da Educação da Espanha entre 1985 e 1996, as escolas públicas espanholas possuem quadros que incluem, além do diretor, um chefe de estudos, orientador pedagógico, professores de apoio para o trabalho com alunos portadores de deficiências ou com dificuldades de aprendizagem. Além disso, em geral, as escolas possuem uma oficina para realizar os reparos urgentes para manter a boa conservação. No quadro de pessoal, segundo Elena, as escolas possuem também o que chamam de "cuidador", ou seja, um funcionário dedicado especialmente a ajudar as pessoas com mobilidade reduzida, a ter acesso a todos os espaços escolares.
No caso brasileiro, as escolas ainda lutam com problemas como a reposição de professores faltosos e a rotatividade de profissionais. Esse é um dos males antigos que ainda provocam estragos no processo de aprendizagem. Um estudo sobre infra-estrutura recente realizado pelas pesquisadoras Roberta Loboda Biondi e Fabiana de Felício, no Inep, comparou o desempenho dos alunos no Saeb ao longo de quatro anos, e mostrou que as turmas de 4ª série e de 8ª série que não sofreram com a troca de professores ficaram em uma vantagem equivalente a três meses a mais de estudo, em relação a colegas de escolas com alta rotatividade de docentes.
Não é apenas no quadro pedagógico que há lacunas a serem preenchidas. "Temos uma estrutura capenga, os módulos são incompletos e faltam inspetores de alunos, bem como funcionários para a higiene e manutenção, o que cria uma situação muito difícil", reclama Roberto Leão, da CNTE. Segundo o dirigente, a sociedade não percebeu, mas as reivindicações dos professores deixaram de ser voltadas para o aspecto salarial. "Hoje, temos de lutar pela melhoria das condições de funcionamento do ponto de vista da infra-estrutura, do número de pessoas que são necessárias para tocar uma escola e da melhoria geral das condições de trabalho", finaliza.
Infra-estrutura na rede pública
Ensino fundamental
Percentual de alunos que estudam em escolas sem biblioteca 53,9%
Percentual de alunos que estudam em escolas sem quadras de esporte 45,0%
Ensino médio
Percentual de alunos que estudam em escolas sem laboratório de ciências 49,6%
Percentual de alunos que estudam sem biblioteca 30,2%
Percentual de alunos que estudam em escolas públicas sem laboratório de informática
34,8%
Trabalho em equipe
A Espanha realizou, a partir do início da década de 90, uma reforma educacional que muito influenciou a educação brasileira, especialmente pelas implicações pedagógicas.
Segundo Álvaro Marchesi, pesquisador e ex-vice-ministro da Educação da Espanha e um dos responsáveis pela implantação da reforma, um dos seus pontos importantes foi a introdução do apoio de orientadores educacionais e outros profissionais para ampliar o atendimento aos alunos, especialmente aqueles com dificuldades de aprendizagem, e auxiliar os professores a trabalhar com a diversidade cultural.
A Espanha é um dos países europeus que vem absorvendo grande número de imigrantes africanos, latino-americanos e das ex-repúblicas soviéticas.
"Os orientadores trabalham como equipes interdisciplinares para atender várias escolas ou em departamentos de orientação, nas escolas de educação secundária", explica.
Esse é mais um detalhe de um sistema bastante completo. Para que se tenha idéia, uma escola pública de ensino médio espanhola tem, além do diretor, chefe de estudo (e adjuntos), orientadores pedagógicos e conselhos de professores e pais, cujo objetivo é estimular a participação da comunidade. No organograma pedagógico, estão também previstos chefes de departamento e bibliotecários.
Fonte: Revista da educação
"A literatura é clara para mostrar que profissionais de apoio são importantes. A pior filosofia que se pode defender na escola é a de Pero Vaz de Caminha, segundo a qual "em se plantando, tudo dá", argumenta o pesquisador do Ipea Sergei Soares. "Ou seja, não basta jogar o professor e os alunos dentro da sala de aula e esperar que tudo dê certo", conclui.
Para Cleuza Repulho, do MEC, as escolas brasileiras ainda precisam amadurecer a discussão sobre o quadro mínimo que a escola precisa ter para atender aos seus objetivos. "Não se discute a questão de que a escola precisa de mais gente, mas é preciso saber quem", diz. Segundo ela, o MEC é indutor de políticas, e não pode interferir nas definições de estados e municípios. As redes pretendem fazer novas contratações para os quadros escolares, mas em muitos lugares esbarram na lei de responsabilidade fiscal.
Gente, gênero de primeira necessidadeSegundo a pesquisadora Elena Martin, diretora-geral do Ministério da Educação da Espanha entre 1985 e 1996, as escolas públicas espanholas possuem quadros que incluem, além do diretor, um chefe de estudos, orientador pedagógico, professores de apoio para o trabalho com alunos portadores de deficiências ou com dificuldades de aprendizagem. Além disso, em geral, as escolas possuem uma oficina para realizar os reparos urgentes para manter a boa conservação. No quadro de pessoal, segundo Elena, as escolas possuem também o que chamam de "cuidador", ou seja, um funcionário dedicado especialmente a ajudar as pessoas com mobilidade reduzida, a ter acesso a todos os espaços escolares.
No caso brasileiro, as escolas ainda lutam com problemas como a reposição de professores faltosos e a rotatividade de profissionais. Esse é um dos males antigos que ainda provocam estragos no processo de aprendizagem. Um estudo sobre infra-estrutura recente realizado pelas pesquisadoras Roberta Loboda Biondi e Fabiana de Felício, no Inep, comparou o desempenho dos alunos no Saeb ao longo de quatro anos, e mostrou que as turmas de 4ª série e de 8ª série que não sofreram com a troca de professores ficaram em uma vantagem equivalente a três meses a mais de estudo, em relação a colegas de escolas com alta rotatividade de docentes.
Não é apenas no quadro pedagógico que há lacunas a serem preenchidas. "Temos uma estrutura capenga, os módulos são incompletos e faltam inspetores de alunos, bem como funcionários para a higiene e manutenção, o que cria uma situação muito difícil", reclama Roberto Leão, da CNTE. Segundo o dirigente, a sociedade não percebeu, mas as reivindicações dos professores deixaram de ser voltadas para o aspecto salarial. "Hoje, temos de lutar pela melhoria das condições de funcionamento do ponto de vista da infra-estrutura, do número de pessoas que são necessárias para tocar uma escola e da melhoria geral das condições de trabalho", finaliza.
Infra-estrutura na rede pública
Ensino fundamental
Percentual de alunos que estudam em escolas sem biblioteca 53,9%
Percentual de alunos que estudam em escolas sem quadras de esporte 45,0%
Ensino médio
Percentual de alunos que estudam em escolas sem laboratório de ciências 49,6%
Percentual de alunos que estudam sem biblioteca 30,2%
Percentual de alunos que estudam em escolas públicas sem laboratório de informática
34,8%
Trabalho em equipe
A Espanha realizou, a partir do início da década de 90, uma reforma educacional que muito influenciou a educação brasileira, especialmente pelas implicações pedagógicas.
Segundo Álvaro Marchesi, pesquisador e ex-vice-ministro da Educação da Espanha e um dos responsáveis pela implantação da reforma, um dos seus pontos importantes foi a introdução do apoio de orientadores educacionais e outros profissionais para ampliar o atendimento aos alunos, especialmente aqueles com dificuldades de aprendizagem, e auxiliar os professores a trabalhar com a diversidade cultural.
A Espanha é um dos países europeus que vem absorvendo grande número de imigrantes africanos, latino-americanos e das ex-repúblicas soviéticas.
"Os orientadores trabalham como equipes interdisciplinares para atender várias escolas ou em departamentos de orientação, nas escolas de educação secundária", explica.
Esse é mais um detalhe de um sistema bastante completo. Para que se tenha idéia, uma escola pública de ensino médio espanhola tem, além do diretor, chefe de estudo (e adjuntos), orientadores pedagógicos e conselhos de professores e pais, cujo objetivo é estimular a participação da comunidade. No organograma pedagógico, estão também previstos chefes de departamento e bibliotecários.
Fonte: Revista da educação
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